Eliana Santos Moura
Quando utilizamos a palavra afeto, normalmente fazemos em contextos relacionados aos sentimentos de carinho, amizade ou amor. Raramente pensamos no afeto enquanto aquilo que nos afeta, provocando em nós uma transformação.
Pensar em afeto enquanto elemento que impulsiona transformações é a reflexão que proponho neste texto, no qual existem mais perguntas do que respostas.
Segundo o filósofo Spinoza, afeto é tudo aquilo que interfere na nossa potência de vida, interferência que pode ser positiva (alegria) ou negativa (tristeza), assim o que nos afeta pode ser algo bom ou ruim, mas que inevitavelmente irá interferir na maneira pela qual conduziremos o nosso caminho a partir desse evento.
Pensando nos dias atuais de pandemia, em que a morte e o sofrimento nos rondam, encontramos campo fértil para afetarmos e sermos afetados, mas a pergunta que fica no ar é: como sairemos de tudo isso?
Refletindo sobre o que Spinoza nos fala acerca de interferências positivas e negativas, deixo aqui algumas questões: saberemos vivenciar as experiências dolorosas de modo que possamos extrair algo positivo? Saberemos aceitar aquilo que não pode ser reversível de maneira ativa, ou seja, aceitar sem conformismo, buscando a partir dessa experiência a mudança de pensamentos e atitudes, primeiramente no plano individual e depois no coletivo?
Acredito que o caminho para as respostas das questões acima, passa pela escolha daquilo e de quem permitimos que nos afete e como seremos afetados.
Em meio a tantas histórias tristes, somos também testemunhas e atores de inúmeras ações que visam a solidariedade social, que se estabelece na medida em que nos percebemos no outro, imaginando as suas dores, angústias e necessidades.
Afetar e ser afetado, proporciona encontros e em consequência relações são estabelecidas, aumentando ou diminuindo nossa potência de vida.
Neste contexto de pandemia, os encontros acontecem nas mais diferentes modalidades, e não só nos espaços físicos: virtual, literário etc, o que importa na verdade é o que os impulsionam, e o que nos move até eles.
Acredito que a tarefa de organizar encontros, nos mais diferentes espaços e com as mais diversas finalidades, seja o caminho para que possamos modificar o mundo a nossa volta, e deixá-lo o mais habitável possível.
Autor
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Eliana Santos Moura é assistente social e psicopedagoga. Atualmente tem desvendado o universo do envelhecimento, vivendo intensamente esse processo e toda a sua potência.
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