Um defeito de cor, da autora Ana Maria Gonçalves, conta a história de Kehinde, desde sua captura na África, até sua viagem de volta ao Brasil na tentativa de encontrar um filho perdido. Aos 7 anos ela, a irmã e a avó foram parar em um navio que trazia pessoas para serem escravizadas no Brasil. Ela faz um relato muito detalhado sobre a forma desumana em que eram transportados, sem ao menos saber qual seria o destino dado a suas vidas. Já na Bahia, ela vai parar numa fazenda para servir de companhia para a filha de um senhor de engenho, e depois acaba sendo mandada para trabalhar no engenho de cana de açúcar e em outros trabalhos duros, e mais uma vez temos mais detalhes de como os negros eram tratados barbaramente pelos seus donos, que nem ao menos os viam como seres humanos.
A história se passa durante o século XIX, o que faz a narrativa passar por vários momentos históricos, como a independência do Brasil, a revolta dos Malês e a Sabinada. Também podemos conhecer a origem das religiões de matriz africana, como elas foram trazidas e adaptadas para serem praticadas aqui, onde se misturaram com elementos da religião cristã, que era imposta aos negros ao chegarem no Brasil. As descrições sobre os lugares da Bahia que são cenário dos acontecimentos são muito ricas. No decorrer de sua trajetória também podemos conhecer um pouco do Rio de Janeiro em seus tempos de corte, e São Paulo que já se expandia bastante nesse período.
Já adulta ela consegue trabalhar como escrava de ganho, e graças a leitura e escrita, consegue ter mais habilidade e ideias para ganhar dinheiro e comprar sua liberdade com a carta de alforria. Ela se torna uma comerciante próspera, ajudando várias outras pessoas a comprarem a liberdade e dando emprego, mas vários acontecimentos que se sucedem levam-na a perder muita coisa. O pai branco de seu filho o vende para mercadores de escravos, e aí começa mais uma saga dela, em busca da criança perdida.
Ela volta para a África, tem mais filhos, mas nunca consegue deixar de tentar encontrar o filho que ficou no Brasil. Já idosa e cega, faz nova viagem ao Brasil na esperança de encontrá-lo para se despedir. É durante essa última travessia que ela relata sua vida para uma amiga transcrever em carta, um pedido de desculpas para o filho.
Ana Maria Gonçalves faz uma introdução muito interessante sobre como encontrou os manuscritos perdidos que continham a história que deu origem ao livro Um defeito de cor. Trata-se da possível história de vida de Luiza Mahin, mãe do advogado abolicionista e poeta Luiz Gama.
Informações sobre o livro
Título: Um defeito de cor
Autora: Ana Maria Gonçalves
Editora: Record
Páginas: 952
Preço médio: R$ 60,00
Autor
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Camyla Rodrigues é historiadora, leitora, adora pedalar e curtir seus cachorros, em especial a vira lata Rita Lee.
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1 comentário em “Um defeito de cor, Ana Maria Gonçalves”
Perfeito!